Se o meu pai pudesse ler esta carta


Olá Pai ou não sei o que devo chamar na verdade.
Esta é a nossa fotografia que mais admiro porque nessa foto vejo como me abraçavas e parecia importares comigo por ter sido a tua primeira filha.
Por vezes eu sinto a tua falta, mas quando sinto toda a revolta que deixaste dentro de mim volto a lembrar que talvez eu odeio-te mesmo.
Sim és a única pessoa que odeio na vida!
Eu não queria ter ganho esse ódio por ti porque pensei que estarias presente na minha vida para sempre.
Realmente as pequenas memórias que tenho de ti estão registradas em fotografias, de ajudares a fazer os deveres de casa de matemática e ralhares comigo por ter dificuldade a contar, e também a última delas todas quando despedimos no Aeroporto. E aí nunca mais voltei a ver, eu era muito miúda, mas nunca irei esquecer da viagem para casa no carro a chorar porque o meu pai foi embora.
Acredita que não está a ser fácil escrever-te esta carta.
Eu, a Dora e o Junior lutamos juntos durante estes 15 anos mesmo na tua ausência, a nossa mãe nunca deixou de acreditar em nós e lutar por nós.
A prioridade dela era os filhos e sempre foi até ao último dia, todas as vezes que ligamos para ti e ignoraste todas as nossas necessidades fez-nos afastar mais ainda de ti.
Graças a Deus nós tivemos uma mãe que designou muito bem os dois papéis de mãe/pai enquanto tu fazias conta de que nós não existíamos.
 Brincaste ao faz-de-conta e nesse tempo nós crescemos e iremos esquecer-te também.
Aprendi e cresci demasiado rápido porque tu obrigaste a isso, mas na verdade não tenho nada a reclamar porque isso faz da mulher que sou hoje.
Hoje, sou uma blogger com o meu pequeno sucesso sonho que terei ainda mais, e namoro com um excelente rapaz que tem intenções sérias comigo.
Estou acabar os meus estudos como sempre quiseste, mas sempre foi para poder arranjar um bom trabalho e dar o meu primeiro ordenado á minha mãe.
Nunca vou esquecer-me que viajei para outro continente para poder fazer a minha vida e ainda assim poder ver-te e tu recusaste ver-me com desculpas esfarrapadas.
Qualquer coisa que venhas dizer não vai mudar o que eu senti naquele dia.
De todo não foste um mau pai só ignoraste a minha existência e o pouco amor que tinha para dar-te.
Entretanto, depois de tantos anos a mãe lutar por nós com muitas idas ao hospital, segurança social, tribunal ela conseguiu dar-nos livros para a escola, conseguiu que tivéssemos documento português, comida para todos os dias e roupa para vestir.
O Junior cresceu está um homem tem tido bastante sucesso nos estudos, treina como jogador de basebol e é um dançarino bem sucedido, ele não se lembra de muita coisa de ti porque quando foste embora ele deveria ter uns 4 anos ou 3 anos.
Infelizmente, perdemos a nossa mãe o ano passado, sentimos falta dela, senti-me sozinha por completo, mas não estava.
Fizemos um funeral lindo (bem que funerais não são momentos felizes) foi um funeral com muitas pessoas e os meus amigos importantes tentaram lá estar, mas tu não, todos carregamos rosas brancas em sinal da mulher de paz que ela era, choramos quase todos os dias por ela, mas somos uns filhos muito sortudos pela mãe que tivemos e que ensinou-nos tudo o que conseguiu.
Antes de falecer uns três meses ela casou-se e concretizou o sonho dela foi o melhor dias das nossas vidas nem queria acreditar.
A vida sem ela não faz qualquer sentido, ela era a única pessoa que podíamos contar, mas isso faz de nós mais unidos e fortes e já não é qualquer coisa que nos consegue atingir.
Aprendemos a ser melhores.
Sei que não pensas em nenhum de nós os dois, mas nós já fomos teus filhos pequenos agora estamos adultos e vamos seguir a nossa vida em frente assim como tu fizeste conosco.
Com exemplo de pai que nos deste não queremos ser como tu e que essa história com os nossos filhos seja bem diferente.
Obrigada por teres lido essa carta.
Da tua filha esquecida,
Noemi

Comentários

  1. Me emocionei e me identifiquei muito com o que tu escreveu. Essas relações entre pais e filhos são sempre muito complicadas na maioria das vezes.
    Beijos
    Mundo de Nati

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    1. É mesmo ás vezes gostávamos que fosse bem diferente, mas acaba por ser experiências que nos fazem bem fortes.

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